cidade de
Quem observa o belíssimo guará (Eudocimus ruber) em Joinville, não imagina o longo e difícil processo que foi para esta espécie voltar a ser observada na região.
Desde o descobrimento do Brasil, pelos portugueses, a espécie possui vários relatos de viajantes estrangeiros, que aqui desembarcavam, apontando para a sua presença em nosso litoral. Estes descrevem suas grandes aglomerações, belíssimas revoadas e até aspectos biológicos da espécie, nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Na época era comum, e muitas vezes era o objetivo principal, relatar tudo que era observado por aqui, desde a flora, a fauna e qualquer outra informação característica da região. Estas viagens exploratórias de época nos ajudam a entender a presença histórica de diversas espécies por todo o Brasil.
A partir de 1900, com o expressivo crescimento populacional no Brasil, e os principais centros urbanos concentrados no litoral, o Guará sofreu uma intensa redução populacional, causando sua extinção em várias regiões do Sul e Sudeste. Os impactos causados pela presença humana em áreas de manguezal na costa brasileira, ambiente necessário para todo o ciclo de vida desta espécie (alimentação, reprodução, etc) foram bastante significativos. O corte da vegetação, o aterro do manguezal, a coleta de penas (por muitos anos o Brasil exportou penas de diferentes espécies para produção de chapéus na Europa) estão entre as principais causas que culminaram com sua extinção.
Até a década de 70, não era conhecido nenhum registro da espécie, no litoral Sul e Sudeste do Brasil, portanto umas das mais belas espécies do planeta foi considerada extinta por aqui.
A partir de 1980, alguns indivíduos foram observados nos manguezais de Santos, no litoral de São Paulo. O reaparecimento na época foi uma importante notícia, pouco se sabia sobre a origem destes indivíduos, mas trouxeram uma grande esperança de que a espécie pudesse retornar a ser abundante nos manguezais, onde já foi observada historicamente aos milhares. A partir de ações de proteção destes indivíduos, envolvendo várias instituições, foram observados ninhos quase 10 anos depois, no ano de 1989. O crescimento populacional da espécie se tornou realidade e em 1995 a estimativa era de mais de 500 indivíduos na região de Santos.
Mas nem tudo deu certo, uma espécie com coloração viva e intensa não passaria despercebida pelos mal-intencionados. Durante este período, várias ações predatórias foram observadas na época, como caça, captura, coleta de ovos, corte do manguezal, entre outras intervenções. Por vários momentos a população voltou a reduzir drasticamente, fazendo com que a esperança de retorno voltasse a níveis desanimadores.
Sabiamente, alguns guarás decidiram explorar novas áreas, em busca de manguezais mais afastados de centros urbanos. A partir de 2002, foram observados ninhos no litoral sul de São Paulo (ilha comprida e Cananéia) em uma região que ainda preserva extensas áreas de manguezal. O novo local, contribuiu muito com o crescimento populacional da espécie, protegendo e garantindo a sobrevivência dos filhotes. A população voltou a crescer e se continuasse assim, ocupando áreas mais ao sul do Brasil, a esperança do seu retorno e expansão estaria mais viva do que nunca.
Fato que foi observado em 2006, com registros da espécie ainda mais ao sul, em Guaraqueçaba e em 2008 em Guaratuba, no litoral do Paraná. O que fez com que a possibilidade de retorno da espécie para o estado de Santa Catarina estivesse próxima de se tornar realidade.
Em 2008 as buscas começaram, a partir do monitoramento do estuário da Babitonga (litoral norte do estado de Santa Catarina) financiado por instituição de ensino da região (UNIVILLE). Mas foi somente no final de 2011 que em alguns indivíduos foram observados, reaparecendo no estado após mais de 150 anos sem registros. Não somente apareceram, como decidiram construir ninhos no estuário da Babitonga. Desde 2011 até hoje, portanto por 13 anos consecutivos a Babitonga é o único local no estado de Santa Catarina em que o guará constrói seus ninhos. A população do guará cresceu e em 2018 foram observados mais de 1000 indivíduos, sendo que hoje a estimativa é de mais de 3000 indivíduos.
A partir de 2017, vários outros municípios de Santa Catarina foram agraciados com a presença da espécie. Como Araquari, Balneário Barra Velha, Balneário Piçarras, Itajaí, Tijucas e até mesmo Florianópolis, somente em 2019. Mas a grande maioria destes municípios a espécie faz apenas algumas visitas, ou seja, somente é possível observa-la em curtos períodos. Acreditamos que a redução significativa de áreas de manguezal nestes municípios seja o principal responsável.
Felizmente em Joinville o Guará decidiu ficar e hoje pode ser observada o ano inteiro. Com muita facilidade no Parque Caieiras, na Vigorelli, nos espinheiros e até na região central da cidade, como no rio Cachoeira. O que faz com que pessoas de diferentes regiões do estado e também do Brasil venham até aqui, considerando a certeza de sua observação.
O Guará voltou, mas este retorno recomeçou em 1980 levando mais de 30 anos para de fato acontecer. Hoje a espécie faz parte do cartão postal da cidade, contrastando com exuberantes áreas de manguezal ainda existentes. Cabe a todos nós garantir que desta vez seja para sempre!
Biólogo, Doutor em Zoologia. Joinvilense e observador de Aves.
Institucional
Informações Úteis
Eventos
Gastronomia
Qualidade de Vida
Todos os direitos reservados | Joinville e Região Convention & Visitors Bureau.