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“Precisamos dar um sentido humano às nossas construções. E, quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.”
Érico Veríssimo
Não é de hoje que sabemos sobre como algumas experiências vividas na infância seguem reverberando por toda uma vida. O relato a seguir é sobre como a observação de aves influenciou nas minhas escolhas profissionais da vida adulta.
Não conheci meus avós paternos e perdi meu avô materno aos 5 anos de idade. Mesmo tão cedo ainda guardo pequenas memórias da convivência com ele e sem dúvidas uma das mais marcantes é o fato de que adorava alimentar as aves que viviam soltas no quintal. Tive uma infância privilegiada e meus avós moravam numa casa com um pomar repleto de árvores e aves. Lembro-me que da boca de meu avô escutei pela primeira vez a palavra “painço”, uma das sementes que ele sempre tinha guardadas em um vidro na cozinha e que de lá retirava todos os dias uma porção para oferecer aos seus amigos passarinhos.
Além de amante das aves, seu Renato também adorava pintar. Suas pinturas a óleo até hoje enfeitam a casa de minha avó, hoje com 93 anos e é lá na parede da copa que permanece a imagem da “ave inventada”.
Somente algum tempo após seu falecimento comecei a reparar nas suas pinturas e um quadro me chamou muito a atenção. Nele havia duas aves sobre a copa de uma árvore, mas uma delas em especial me chamou muito a atenção. Nela havia uma mistura de amarelo com vermelho e preto, uma parte toda tracejada em branco e preto e além de tudo isso a ave parecia vestida com uma máscara parecida com o personagem “Zorro”. Na minha cabeça de criança aquilo só poderia ter sido algum tipo de devaneio/invenção do artista e nunca imaginei que aquela ave poderia de fato existir.
Minha relação mais profunda com a observação de aves começa muito mais tarde na minha vida adulta. Em 2015, após me mudar definitivamente do interior de São Paulo para a Estrada Rio do Júlio, na região da Serra Dona Francisca, em Joinville e criar a Curi Agroecologia, começo a descobrir as inúmeras maravilhas da Mata Atlântica e o afastamento da cidade me permite um olhar mais aprofundado e cuidadoso sobre as criaturas encontradas no bioma mais biodiverso e mais ameaçado do Brasil.
Em Abril desse ano de 2024, durante uma passarinhada no evento Observa Joinville, conduzida pelo hoje amigo Fábio “Barata”, pude avistar pela primeira vez a tal “ave inventada”. Três exemplares da espécie pousaram em uma árvore próxima e o guia prontamente nos instruiu dizendo que o nome popular das aves seria “Benedito-de-testa-amarela”. Imediatamente fui transportado de volta à minha infância e esse episódio me fez valorizar ainda mais nossas matas.
Hoje na Curi, além de trabalhar com abelhas e hospedagem, temos um foco especial para a observação de aves, proporcionando aos visitantes uma experiência de contato com esses animais sempre presentes em nossos comedouros e bebedouros, além de trilhas pela propriedade que conduzem os observadores e observadoras por diferentes áreas (banhados, morros, pastagens, agroflorestas, pomares, mata ciliar) distribuídas pelos 14 hectares da propriedade.
É impossível descrever o sentimento que me invade quando pais e mães que visitam nossa propriedade me procuram agradecendo após um beija-flor ter pousado nas mãos de seus filhos. Vejo nos olhos destes adultos e crianças a realização de quem sente a presença única dessa entidade chamada floresta.
Digo com convicção que a experiência obtida com meu avô nos meus primeiros anos de vida teve influência direta nas decisões atuais tomadas para o projeto e ver esses meninos e meninas por aqui sempre me transportam de volta aos momentos que tive na minha infância.
Acredito que um dos sentimentos mais completos que podemos ter em vida está relacionado à ancestralidade e a observação de aves para a Curi no ano de 2024 trouxe essa percepção de estar seguindo o caminho correto. A “ave inventada” hoje atende pelo nome de Benedito-de-testa-amarela e temos um mural especial ao lado de nossa horta que retrata lindamente essa incrível espécie de pica-pau.
Engenheiro Agrônomo e Guia de Observação de Aves em Joinville
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